Éfeso era rica, próspera,
magnificente e famosa por seu templo de Diana. A cidade eslava localizada
próxima à costa oeste da Ásia Menor, no mar Egeu, e próxima à foz do rio
Caistro. Seu porto -
nos dias de sua glória - acomodava os maiores navios. Sobretudo, era de fácil
acesso por terra, pois Éfeso estava conectada por estradas com as mais
importantes cidades da Asia Menor. Éfeso foi por muito tempo o centro comercial
da Ásia. O templo de Diana era ao mesmo tempo uma casa do tesouro, um museu e
um lugar de refúgio para criminosos. Fornecia emprego para muitos, incluindo os
artesãos da prata que fabricavam miniaturas do templo de Diana.[4]
Paulo visitou essa cidade (At
18.19-21) em sua viagem de Corinto
a Jerusalém. Isso ocorreu durante sua segunda viagem missionária, cerca de 52 A .D. Aí foi que ele deixou Priscila e
Áquila (18.19); e aí foi
que Apolo pregou com caloroso zelo (18.25). Em sua terceira viagem missionaria, Paulo passou três
anos aí (At 20.31).
Seu trabalho foi grandemente abençoado, não só em Éfeso propriamente, mas em
toda a região vizinha. A loja de venda de miniaturas de prata do templo de
Diana foi queimada em 262 A .D. e jamais foi reconstruída. Rumo à
pátria, vindo de sua terceira viagem missionária, Paulo se despediu dos
presbíteros da Igreja de Éfeso de uma maneira tocante (At 20.17-38). Isso ocorreu por volta do ano 57 A .D. Durante sua primeira prisão,
60-63, Paulo enviou, de Roma,
sua carta aos efésios.[5]
Após sua libertação, o apóstolo parece ter feito mais algumas breves visitas
aos efésios, deixando Timóteo encarregado dessa Igreja (1 Tm 1.3). Poucos anos depois, possivelmente logo após o início
da guerra judaica, digamos no ano 66 A .D., encontramos o apóstolo João em Éfeso.[6]
Foi durante o reinado de
Domiciano (81-96 A .D.) que João foi banido para Patmos. Foi
liberto e morreu durante o reinado de Trajano. A tradição relata que, bem velho
e fraco demais para andar, João era carregado para a Igreja onde admoestava os
irmãos: "Filhinhos, amai-vos uns aos outros".
Fica, assim, evidente que a
Igreja de Éfeso tinha mais de quarenta anos quando Jesus ditou essa carta.
Outra geração havia surgido. Os filhos não experimentavam aquele entusiasmo
intenso, aquela espontaneidade e o ardor que haviam revelado os seus pais
quando tiveram o primeiro contacto com o evangelho. Não apenas isso, mas
faltava à geração seguinte a devoção a Cristo. Uma situação semelhante ocorreu
em Israel depois dos dias de Josué e os anciãos (Jz
2.7,10, ll).[7]
A Igreja havia abandonado seu primeiro amor.
Observe a autodesignação de
Cristo: "Aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda
no meio dos sete candeeiros". Qual é a razão dessa designação? Foi dada
porque as sete estrelas apontam para os ministros das igrejas, verdadeiros
embaixadores de Cristo, e a Igreja em Éfeso havia sido atribulada por
"falsos apóstolos" (2.2), que tentaram se contrapor à obra dos verdadeiros
ministros. Assim, a essa Igreja é dada a segurança de que o Filho do homem,
exaltado em glória, dirige os ministros e sabe o que acontece nas igrejas. Ele
mantém nas suas mãos as estrelas e anda no meio dos candeeiros. Descobrimos,
então, que, em cada caso separado, a autodesignação de Cristo tem esse peso
sobre a Igreja à qual a carta é escrita.[8]
A Igreja em Éfeso foi louvada
pelas suas obras, pela sua labuta e pela sua perseverança. Com respeito a essas
coisas ela era um candeeiro que fazia brilhar a luz do Salvador no meio das
trevas do mundo. É importante, especialmente, observar que essa Igreja é também
louvada pela sua "intolerância". Ela havia provado os que se diziam
ser apóstolos e, julgando-os falsos, os rejeitou. Em todas essas tribulações
essa Igreja havia sido leal à verdadeira doutrina e não havia se deixado
esmorecer. Havia atentado para a advertência de Paulo (At
20.28,29; cf 1 Jo4.1).
Súbito, lemos esta acusação:
"Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor". Já
explicamos o sentido de tão séria reprovação. Certamente, havia obras, labutas
e perseverança em Éfeso; mas tudo isso estava presente embora houvesse uma
diminuição de amor. Uma esposa, por exemplo, pode ser bastante fiel ao seu
marido e pode até dar evidência de diligente atenção nas coisas a ele
pertinentes - e, ainda
assim, ter falta de amor. Seu senso de dever, apenas, pode movê-la a permanecer
fiel em todos os detalhes da atenção que lhe presta. Igualmente, um membro de
Igreja pode ser assíduo na sua freqüência aos cultos, mas, a despeito disso, pode não estar tão
devotado ao Senhor como já foi um dia.
A Igreja é desafiada a
refletir sobre sua queda, a mudar
sua mente, de forma que possa realizar as primeiras obras. A ameaçaque se segue, "e se não,
venho a ti e moverei do teu lugar o teu candeeiro", foi cumprida. Hoje em
dia não há Igreja em Éfeso. O próprio lugar está em ruínas.[9]
Então, mui
ternamente,
o Senhor volta ao seu louvor: 'Tens, contudo, a teu favor, que odeias as obras
dos nicolaítas, as quais eu também odeio". É provável que esses nicolaítas
e "os que sustentam as doutrinas de Balaão" (2.14) e os seguidores da
mulher, Jezabel (2.20), representem o mesmo grupo geral de heréticos. Nós os
veremos de novo. Deve-se notar que essas eram pessoas que não só se recusavam a
abster-se dos banquetes imorais e idólatras dos
pagãos,
mas também tentavam justificar suas práticas pecaminosas.[10]
O Senhor odeia qualquer comprometimento com o mundo. Ele louva a Igreja em
Éfeso pela sua posição firme contra as obras dos nicolaítas.
Daí,
segue-se a exortação: "Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às
igrejas". Observe o plural. Cada carta deve ser lida por todas as igrejas
e não só por aquela à qual foi primariamente dirigida."
A
expressão "ao vencedor" é a mesma expressão usada em 6.2: "e ele
saiu vencendo e para vencer". O vencedor é o homem que luta contra o
pecado, contra o diabo e contra todo o sua domínio, e, em seu amor por Cristo,
persevera
até o fim. A tal vencedor é prometido algo melhor do que a comida oferecida aos
ídolos, com a qual os pagãos procuravam atrair os membros
das igrejas para os seus cultos idólatras. Ao vencedor seria dado de
comer da árvore da vida (Gn 3.22; Ap 22.2,14), isto é, ele herdaria a vida
eterna no paraíso celeste. Essa promessa é adaptada ao caráter geral dessa
carta, assim como é adaptada a cada uma das sete mensagens.
[5]O
fato de essa carta ser considerada ou não como uma circular, não afeta
isso de modo algum. R. C. H. Lensky defende, habilmente, a genuinidade das
palavras "que estão em Éfeso" (Ef 1.1)
em seu livro Iníerpretation ofSt. PauVs Epistles to the Galatians, to the Ephesians, and to the
Philippians, pp. 329ss.
[8]
Todos os comentaristas observam esse fato.
[9]Ver o artigo dè E.
L. Harris, "Some Ruined Cities of Asia Minor", em
The National Geographic Magazine, dezembro de 1908.
[10]Ver nossa exposição da epístola
a Pérgamo e da de Tiatira, especialmente pp. 97, 102s.
4. W. M. Ramsay, op. cit., pp. 210-236.
Nenhum comentário:
Postar um comentário