sábado, 17 de dezembro de 2011

CARTA À IGREJA DE ÉFESO - Ap 2.1-7

FONTE: Mais Que Vencedores - William Hendriksen

Éfeso era rica, próspera, magnificente e famosa por seu templo de Diana. A cidade eslava localizada próxima à costa oeste da Ásia Menor, no mar Egeu, e próxima à foz do rio Caistro. Seu porto - nos dias de sua glória - acomodava os maiores na­vios. Sobretudo, era de fácil acesso por terra, pois Éfeso estava conectada por estradas com as mais importantes cidades da Asia Menor. Éfeso foi por muito tempo o centro comercial da Ásia. O templo de Diana era ao mesmo tempo uma casa do tesouro, um museu e um lugar de refúgio para criminosos. Fornecia emprego para muitos, incluindo os artesãos da prata que fabri­cavam miniaturas do templo de Diana.[4]
Paulo visitou essa cidade (At 18.19-21) em sua viagem de Corinto a Jerusalém. Isso ocorreu durante sua segunda viagem missionária, cerca de 52 A.D. Aí foi que ele deixou Priscila e Áquila (18.19); e aí foi que Apolo pregou com caloroso zelo (18.25). Em sua terceira viagem missionaria, Paulo passou três anos aí (At 20.31). Seu trabalho foi grandemente abençoado, não só em Éfeso propriamente, mas em toda a região vizinha. A loja de venda de miniaturas de prata do templo de Diana foi queimada em 262 A.D. e jamais foi reconstruída. Rumo à pátria, vindo de sua terceira viagem missionária, Paulo se despediu dos presbíteros da Igreja de Éfeso de uma maneira tocante (At 20.17-38). Isso ocorreu por volta do ano 57 A.D. Durante sua primeira prisão, 60-63, Paulo enviou, de Roma, sua carta aos efésios.[5] Após sua libertação, o apóstolo parece ter feito mais algumas breves visitas aos efésios, deixando Timóteo encarre­gado dessa Igreja (1 Tm 1.3). Poucos anos depois, possivelmente logo após o início da guerra judaica, digamos no ano 66 A.D., encontramos o apóstolo João em Éfeso.[6]
Foi durante o reinado de Domiciano (81-96 A.D.) que João foi banido para Patmos. Foi liberto e morreu durante o reinado de Trajano. A tradição relata que, bem velho e fraco demais para andar, João era carregado para a Igreja onde admoestava os irmãos: "Filhinhos, amai-vos uns aos outros".
Fica, assim, evidente que a Igreja de Éfeso tinha mais de quarenta anos quando Jesus ditou essa carta. Outra geração ha­via surgido. Os filhos não experimentavam aquele entusiasmo intenso, aquela espontaneidade e o ardor que haviam revelado os seus pais quando tiveram o primeiro contacto com o evange­lho. Não apenas isso, mas faltava à geração seguinte a devoção a Cristo. Uma situação semelhante ocorreu em Israel depois dos dias de Josué e os anciãos (Jz 2.7,10, ll).[7] A Igreja havia abandonado seu primeiro amor.
Observe a autodesignação de Cristo: "Aquele que conser­va na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros". Qual é a razão dessa designação? Foi dada porque as sete estrelas apontam para os ministros das igrejas, verda­deiros embaixadores de Cristo, e a Igreja em Éfeso havia sido atribulada por "falsos apóstolos" (2.2), que tentaram se con­trapor à obra dos verdadeiros ministros. Assim, a essa Igreja é dada a segurança de que o Filho do homem, exaltado em glória, dirige os ministros e sabe o que acontece nas igrejas. Ele man­tém nas suas mãos as estrelas e anda no meio dos candeeiros. Descobrimos, então, que, em cada caso separado, a autodesignação de Cristo tem esse peso sobre a Igreja à qual a carta é escrita.[8]
A Igreja em Éfeso foi louvada pelas suas obras, pela sua labuta e pela sua perseverança. Com respeito a essas coisas ela era um candeeiro que fazia brilhar a luz do Salvador no meio das trevas do mundo. É importante, especialmente, observar que essa Igreja é também louvada pela sua "intolerância". Ela havia provado os que se diziam ser apóstolos e, julgando-os falsos, os rejeitou. Em todas essas tribulações essa Igreja havia sido leal à verdadeira doutrina e não havia se deixado esmorecer. Havia atentado para a advertência de Paulo (At 20.28,29; cf 1 Jo4.1).
Súbito, lemos esta acusação: "Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor". Já explicamos o sentido de tão séria reprovação. Certamente, havia obras, labutas e perse­verança em Éfeso; mas tudo isso estava presente embora hou­vesse uma diminuição de amor. Uma esposa, por exemplo, pode ser bastante fiel ao seu marido e pode até dar evidência de dili­gente atenção nas coisas a ele pertinentes - e, ainda assim, ter falta de amor. Seu senso de dever, apenas, pode movê-la a per­manecer fiel em todos os detalhes da atenção que lhe presta. Igualmente, um membro de Igreja pode ser assíduo na sua fre­qüência aos cultos, mas, a despeito disso, pode não estar tão devotado ao Senhor como já foi um dia.
A Igreja é desafiada a refletir sobre sua queda, a mudar sua mente, de forma que possa realizar as primeiras obras. A ameaçaque se segue, "e se não, venho a ti e moverei do teu lugar o teu candeeiro", foi cumprida. Hoje em dia não há Igreja em Éfeso. O próprio lugar está em ruínas.[9]
Então, mui ternamente, o Senhor volta ao seu louvor: 'Tens, contudo, a teu favor, que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio". É provável que esses nicolaítas e "os que sustentam as doutrinas de Balaão" (2.14) e os seguidores da mulher, Jezabel (2.20), representem o mesmo grupo geral de heréticos. Nós os veremos de novo. Deve-se notar que essas eram pessoas que não só se recusavam a abster-se dos banque­tes imorais e idólatras dos pagãos, mas também tentavam justi­ficar suas práticas pecaminosas.[10] O Senhor odeia qualquer com­prometimento com o mundo. Ele louva a Igreja em Éfeso pela sua posição firme contra as obras dos nicolaítas.
Daí, segue-se a exortação: "Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas". Observe o plural. Cada carta deve ser lida por todas as igrejas e não só por aquela à qual foi prima­riamente dirigida."
A expressão "ao vencedor" é a mesma expressão usada em 6.2: "e ele saiu vencendo e para vencer". O vencedor é o homem que luta contra o pecado, contra o diabo e contra todo o sua domínio, e, em seu amor por Cristo, persevera até o fim. A tal vencedor é prometido algo melhor do que a comida oferecida aos ídolos, com a qual os pagãos procuravam atrair os membros das igrejas para os seus cultos idólatras. Ao vencedor seria dado de comer da árvore da vida (Gn 3.22; Ap 22.2,14), isto é, ele herdaria a vida eterna no paraíso celeste. Essa promessa é adaptada ao caráter geral dessa carta, assim como é adaptada a cada uma das sete mensagens.


[1]R. C. Trench, op. cit., p. 97; W. Milligan, op. cit., p. 841.
[2]Ver o Capítulo Dois, pp. 35s. e R. C. Trench, op. cit, p. 90.
[3]W. J. McKnight, 'The Letter to the Laodiceans", Biblical Review, XVI p. 519; A.
Pieters, op. cit., pp. lOOss. uma excelente discussão). O ponto de vista contrário é defendido pela Bíblia de Scofield.
[5]O fato de essa carta ser considerada ou não como uma circular, não afeta isso de modo algum. R. C. H. Lensky defende, habilmente, a genuinidade das palavras "que estão em Éfeso" (Ef 1.1) em seu livro Iníerpretation ofSt. PauVs Epistles to the Galatians, to the Ephesians, and to the Philippians, pp. 329ss.
[6]Ver F. Godet, Commentary on the Gospel of John, pp. 43ss.
[7]Ver R. C. Trench, op. cit., p. 80.
[8] Todos os comentaristas observam esse fato.
11. Esse fato é também realçado por todos os comentaristas.
[9]Ver o artigo dè E. L. Harris, "Some Ruined Cities of Asia Minor", em The National Geographic Magazine, dezembro de 1908.
[10]Ver nossa exposição da epístola a Pérgamo e da de Tiatira, especialmente pp. 97, 102s.
4. W. M. Ramsay, op. cit., pp. 210-236.

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