domingo, 18 de dezembro de 2011

A CARTA À IGREJA DE ESMIRNA - Ap 2.8-11


Fonte: Mais Que Vencedores - William Hendriksen

Esta cidade, localizada num braço do mar Egeu, era uma rival de Éfeso. Dizia-se que era a "primeira cidade da Ásia em beleza e tamanho". Uma cidade pitoresca, numa encosta sobre o mar, com seus esplêndidos edifícios públicos no topo arre­dondado do monte Pagos, formavam o que era conhecido como "a coroa de Esmirna". A brisa do oeste, o zefir, vem do mar e sopra por cada parte da cidade tornando-a arejada e fresca, mes­mo durante o verão. Desde o início da subida de Roma ao poder, mesmo antes dos dias de sua grandeza, Esmirna era arredondado como leal aliada de Roma. Essa fidelidade e lealda­de se tornou proverbial.12
Com toda a probabilidade, a Igreja de Esmirna foi fundada por Paulo durante sua terceira viagem, em 53-56 A.D. Não estamos certos disso, mas parece-nos uma conclusão segura do que lemos em Atos 19.10: "...dando ensejo a que todos os habi­tantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos".
É possível que Policarpo tenha sido bispo da Igreja em Esmirna nessa época. Ele foi discípulo de João. Fiel até a mor­te, esse venerável líder foi queimado na fogueira no ano 155 A.D. Foi-lhe ordenado dizer: "César é Senhor", mas ele se recu­sou. Levado ao estádio, o procônsul instou com ele: "Impropera a Cristo; nega-o e eu o porei em liberdade". A isso Policarpo respondeu: "Por 86 anos eu o tenho servido e ele jamais me causou qualquer mal: como, pois, eu poderia blasfemar contra meu Rei e meu Salvador?" Quando o procônsul novamente o pressionou, o velho homem respondeu: "Visto que em vão instas que ... jure pela prosperidade de César e ignore não conhecer quem sou e o que sou, declaro aqui com ousadia, que sou cris­tão..." Pouco depois o procônsul disse: "Tenho feras selvagens à minha disposição; e eu o lançarei às feras caso não te arrepen­das. Eu o farei ser consumido pelo fogo uma vez que desprezas as feras, se não te arrependeres". Mas Policarpo disse: "Ameaças-me com o fogo que pode durar por uma hora e, então, se extingue, mas ignoras o fogo do julgamento vindouro e a puni­ção eterna reservada para os ímpios. Por que demoras? Faça sua vontade". Logo depois o povo ajuntou madeira e palha; os judeus, especialmente, segundo o costume, avidamente os aju­davam. E Policarpo foi queimado na fogueira.[1]
Incluímos, propositalmente, esse breve relato do martírio de Policarpo para que o leitor tenha conhecimento das reais condições em que vivia a Igreja nos séculos 1Q e 2- A.D.
E a essa Igreja que Jesus se dirige, como se segue: "Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver",[2] isto é, aquele que estava vivo mesmo quando morto: o que vive eternamente. Como no início das outras cartas, assim aqui: a autodesignação de Cristo se encontra em bela harmonia com o caráter geral da mensagem. Cristo, o vencedor da morte, o que vive eternamente, está apto a dizer, como o faz nesta car­ta: "Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida" (2.10).
"Conheço a tua tribulação, a tua pobreza." Extrema po­breza, é o que ele quer dizer. Aquelas pessoas eram, freqüen­temente, despedidas de seus empregos como resultado de sua conversão. Na verdade, diga-se logo que eram, geralmente, pobres quanto a bens terrenos. Tornar-se cristão era, de um ponto de vista terreno, um verdadeiro sacrifício. Isso signifi­cava pobreza, fome, prisão e, com freqüência, morte por meio de feras ou de fogo.[3]
O Senhor diz a esses crentes de Esmirna que não deviam sentir piedade de si mesmos. Podiam parecer pobres, mas, na realidade, eram ricos, a saber, de bens espirituais, ricos da gra­ça e de seus gloriosos frutos (Mt 6.20; 19.21; Lc 12.21). Que conforto para aqueles crentes perseguidos era o entendimento de que seu Senhor "sabia" disso tudo.
"...E a blasfêmia daqueles que se declaram judeus e não são, sendo antes sinagoga de Satanás." Esses judeus haviam escolhido Esmirna como local de sua residência provavelmente porque era uma cidade de comércio. Eles não só vilipendiavam o Messias, mas ansiosamente acusavam os cristãos diante dos tribunais romanos. Como sempre, eles se enchiam de maldade contra os cristãos (cf At 13.50; 14.2, 5, 19; 17.5; 24.1). Esses pretensos judeus podiam considerar-se "sinagoga de Deus", mas eram, na verdade, "sinagoga de Satanás", o principal acusador da irmandade. Como qualquer um pode dizer que os judeus de hoje são ainda, num sentido especial, glorioso e preeminente, o povo de Deus, é algo além do que eu posso entender. O próprio Deus chama aqueles que rejeitam o Salvador e perseguem os crentes verdadeiros de "a sinagoga de Satanás". Eles não são mais seu povo.
"Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós para serdes postos à prova." Por trás dos perseguidores romanos vemos os judeus, cheios de inveja maligna e de ódio contra os crentes, acusando-os perante os tribunais romanos. E esses judeus, por sua vez, eram instrumentos usados pelo próprio diabo. O diabo lançaria alguns em prisão, o que, geralmente, significava morte. Mas enquanto Satanás estivesse tentando os crentes, Deus, por essa mesma aflição, os estaria provando, testando, provando: "para serdes postos à prova". Essa tribula­ção duraria "dez dias", isto é, um tempo definido, cheio, mas breve.[4] O fato de que a provação é por breve tempo é uma palavra dada, geralmente, como encorajamento à perseverança (Is 26.20; 54.8; Mt 24.22; 2 Co 4.17; 1 Pe 1.6).
"Sê fiel até a morte" não significa meramente "ser leal até morrer", mas "ser fiel ainda que isso custe a vida". Disse o piloto, que navegava em seu barco num mar tempestuoso: "Pai Netuno, tu podes fazer-me naufragar, se quiseres; tu podes me salvar, se quiseres. Qualquer coisa que aconteça, porém, eu segurarei firme o timão". Uma atitude igual é requerida aqui - o que quer que aconteça, segure firme o timão; sê fiel até a morte. Aqueles que são fiéis é prometida a coroa da vida, a saber, a vida de glória no céu.[5] Ainda que os crentes possam sofrer a primeira morte, eles não serão feridos pela segunda morte, isto é, eles não serão jamais lançados, corpo e alma, no lago de fogo, na segunda vinda de Cristo (Ap 20.14).
Esmirna era fiel ao seu chamado para ser um candeeiro. O testemunho de Policarpo, dado na presença de judeus e de pa­gãos, foi imitado por outros.[6]


[1]Ante-Nicene Falhers, I, pp. 37ss.
[2]Ver W. M. Ramsay, op. cit., p. 269. Ele parece provar esse ponto com respeito ao significado do aoristo aqui empregado.
[3]E. H. Plumptre, op. cit., p. 91.
[4]Ver W. Milligan, op. cit., p. 845.
[5]Ver E. H. Plumptre,     cit., nota na página 97. Esse não é um diadema real, mas a coroa da vitória.
[6]Sobre a presente condição de Esmirna, ver E. L. Harris, em artigo citado ante­riormente.

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