Fonte: Mais Que Vencedores - William Hendriksen
Esta
cidade, localizada num braço do mar Egeu, era uma rival de Éfeso.
Dizia-se que era a "primeira cidade da Ásia em beleza e tamanho". Uma
cidade pitoresca, numa encosta sobre o mar, com seus esplêndidos edifícios
públicos no topo arredondado do monte Pagos, formavam o que era conhecido como
"a coroa de Esmirna". A brisa do oeste, o
zefir, vem
do mar e sopra por cada parte da cidade tornando-a
arejada e
fresca, mesmo durante o verão. Desde o início da subida de Roma ao poder,
mesmo antes dos dias de sua grandeza, Esmirna era arredondado como leal aliada
de Roma. Essa fidelidade e lealdade se tornou
proverbial.12
Com toda a
probabilidade, a Igreja de Esmirna foi fundada por Paulo durante sua terceira
viagem, em 53-56 A .D.
Não estamos certos disso, mas parece-nos uma conclusão segura do que lemos em
Atos 19.10: "...dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a
palavra do Senhor, tanto judeus como gregos".
É possível
que Policarpo tenha sido bispo da Igreja em Esmirna nessa época.
Ele foi discípulo de João. Fiel até a morte, esse
venerável
líder foi queimado na fogueira no ano 155 A .D. Foi-lhe ordenado dizer: "César é
Senhor", mas ele se recusou. Levado ao estádio, o
procônsul
instou com ele: "Impropera a Cristo; nega-o e eu o porei em
liberdade". A isso Policarpo respondeu: "Por 86 anos
eu o tenho servido e ele jamais me causou qualquer mal: como, pois, eu poderia
blasfemar contra meu Rei e meu Salvador?" Quando o
procônsul
novamente o pressionou, o velho homem respondeu: "Visto que em vão instas
que ... jure pela prosperidade de César e ignore não conhecer quem sou e o que
sou, declaro aqui com ousadia, que sou cristão..." Pouco depois o
procônsul
disse: "Tenho feras selvagens à minha disposição; e eu o lançarei às feras
caso não te arrependas. Eu o farei ser consumido pelo fogo uma vez que
desprezas as feras, se não te arrependeres". Mas
Policarpo
disse: "Ameaças-me com o fogo que pode durar por uma hora e, então, se
extingue, mas ignoras o fogo do julgamento vindouro e a punição eterna
reservada para os ímpios. Por que demoras? Faça sua vontade". Logo depois
o povo ajuntou madeira e palha; os judeus, especialmente, segundo o
costume, avidamente os ajudavam. E Policarpo foi queimado na fogueira.[1]
Incluímos,
propositalmente, esse breve relato do martírio de
Policarpo
para que o leitor tenha conhecimento das reais condições em que vivia a Igreja
nos séculos 1Q e 2- A.D.
E a essa
Igreja que Jesus se dirige, como se segue: "Estas coisas diz o primeiro e
o último, que esteve morto e tornou a viver",[2]
isto é, aquele que estava vivo mesmo quando morto: o que vive eternamente. Como
no início das outras cartas, assim aqui: a autodesignação de Cristo se encontra
em bela harmonia com o caráter geral da mensagem. Cristo, o vencedor da morte,
o que vive eternamente, está apto a dizer, como o faz nesta carta:
"Sê
fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida" (2.10).
"Conheço
a tua tribulação, a tua pobreza." Extrema pobreza, é o que ele
quer dizer. Aquelas pessoas eram, freqüentemente, despedidas de seus empregos
como resultado de sua conversão. Na verdade, diga-se logo que eram, geralmente,
pobres quanto a bens terrenos. Tornar-se cristão era, de um ponto de vista
terreno, um verdadeiro sacrifício. Isso significava pobreza, fome, prisão e,
com freqüência, morte por meio de feras ou de fogo.[3]
O Senhor
diz a esses crentes de Esmirna que não deviam sentir piedade de si mesmos.
Podiam parecer pobres, mas, na realidade, eram ricos, a saber, de bens
espirituais, ricos da graça e de seus gloriosos frutos (Mt 6.20; 19.21; Lc
12.21). Que conforto para aqueles crentes perseguidos era o entendimento de que
seu Senhor "sabia" disso tudo.
"...E
a blasfêmia daqueles que se declaram judeus e não são, sendo antes sinagoga de
Satanás." Esses judeus haviam escolhido Esmirna como local de sua residência
provavelmente porque era uma cidade de comércio. Eles não só vilipendiavam o
Messias, mas ansiosamente acusavam os cristãos diante dos tribunais romanos.
Como sempre, eles se enchiam de maldade contra os cristãos (cf At 13.50; 14.2, 5, 19; 17.5;
24.1). Esses pretensos judeus podiam considerar-se "sinagoga de
Deus", mas eram, na verdade, "sinagoga de
Satanás", o principal acusador da irmandade. Como qualquer um pode dizer que os
judeus de hoje são ainda, num sentido especial, glorioso e
preeminente,
o povo de Deus, é algo além do que eu posso entender. O próprio Deus chama
aqueles que rejeitam o Salvador e perseguem os crentes verdadeiros de "a
sinagoga de Satanás". Eles não são mais seu povo.
"Eis
que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós para
serdes
postos à prova." Por trás dos perseguidores romanos vemos os judeus,
cheios de inveja maligna e de ódio contra os crentes, acusando-os perante os
tribunais romanos. E esses judeus, por sua vez, eram instrumentos usados pelo
próprio diabo. O diabo lançaria alguns em prisão, o que, geralmente,
significava morte. Mas enquanto Satanás estivesse tentando os crentes,
Deus, por essa mesma aflição, os estaria provando, testando, provando:
"para serdes postos à prova". Essa
tribulação
duraria "dez dias", isto é, um tempo definido, cheio, mas breve.[4]
O fato de que a provação é por breve tempo é uma palavra dada, geralmente, como
encorajamento à perseverança (Is 26.20; 54.8; Mt 24.22; 2 Co
4.17; 1 Pe 1.6).
"Sê fiel até a morte"
não significa meramente "ser leal até morrer", mas "ser fiel
ainda que isso custe a vida". Disse o piloto, que navegava em seu barco
num mar tempestuoso: "Pai Netuno, tu podes fazer-me naufragar, se
quiseres; tu podes me salvar, se quiseres. Qualquer coisa que aconteça, porém,
eu segurarei firme o timão". Uma atitude igual é requerida aqui - o que quer que aconteça, segure firme o timão; sê fiel
até a morte. Aqueles que são fiéis é prometida a coroa da vida, a saber, a vida
de glória no céu.[5]
Ainda que os crentes possam sofrer a primeira
morte, eles não serão feridos
pela segunda morte, isto é, eles não serão jamais lançados, corpo e
alma, no lago de fogo, na segunda vinda de Cristo (Ap
20.14).
Esmirna era fiel ao seu chamado
para ser um candeeiro. O testemunho de Policarpo, dado na presença de judeus e
de pagãos, foi imitado por outros.[6]
Nenhum comentário:
Postar um comentário