segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

JÓ - O HOMEM MAIS ÍNTEGRO DA TERRA

Seminarista Marcelo Seião

INTRODUÇÃO:

Infelizmente, nos dias de hoje, devido à ampla divulgação da teologia da prosperidade, a vida de Jó parece atender aos apelativos dessa teologia: ficar rico é a prova cabal do derramamento das mais ricas e abundantes bênçãos dos céus.

Não estou, aqui, querendo dizer que Deus não abençoa os seus servos financeiramente e nem mesmo que riqueza é sinônimo de pecado. Estou só afirmando que a benção de Deus não se restringe apenas a posses materiais.

Em verdade, Jó reconhecia que tudo o que ele tinha vinha do Senhor (Jó 1.20-22). E mais! Jó compreendia perfeitamente que o mais importante na vida daquele que foi abençoado financeiramente não é o quanto ele tem e pode multiplicar, mas o bem que deve ser feito com o muito que Deus lhe deu (Jó 31.1-40).

Dessa forma, vale lembrar que a bênção financeira tem dois fios que fazem parte do mesmo tecido. O primeiro fio é a alegria de ser abençoado e poder desfrutar e proporcionar à família o que há de melhor nessa vida: boa comida, boa moradia e boas roupas. O segundo fio, por sua vez, é a grande responsabilidade de ter de partilhar dessa bênção com os menos afortunados, não permitindo que o egoísmo, orgulho e avareza achem lugar para se instalarem. (Leia os textos a seguir: 1 Timóteo 6.6-10;17-18; Tiago 1.9-11).

Entretanto, nesse livro, somos confrontados com outra verdade impactante: “ninguém há na terra semelhante a ele”, disse Deus (Jó 1.8; 2.3). Ou seja, a maior riqueza de Jó não era o que ele possuía, mas quem ele era diante de Deus: “homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal”. (Jó 1.1; 1.8; 2.3).

Assim sendo, podemos facilmente observar que nem no livro de Jó e em nenhum outro lugar das Escrituras Deus elogia as suas posses; antes, porém, Deus aprova com louvor o seu caráter, retidão e paciência (Jó 1.1; 1.8; 2.3; Ez 14.14 e 20; Tiago 5.11).

Por essa razão, nesse estudo gostaria de fazer uma apreciação da retidão e da justiça de Jó, pois ele REPRESENTA O QUE HÁ DE MELHOR NA HUMANIDADE.

1 – SUA POSTURA NA HORA DA DOR:

a) Postura de adorador: Jó 1.21-22.

b) Postura de servo humilde: Jó 2.9-10.

c) Postura perseverante: Jó 27.2-6.


2 – SUA CONSCIÊNCIA DIANTE DE DEUS:

a) Consciência limpa: Jó 27.5-6.


3 – SUAS OBRAS:

a) Era um chefe de família comprometido com o seu lar (sacerdote no lar): Jó 1.5.

b) Orava e era respondido: Jó 12.4b.

c) Não cobiçava mulheres jovens: Jó 31.1.

d) Não era falso e nem enganador: Jó 31.5.

e) Ele era seguro de sua integridade: Jó 31.6.

f) Ele não se desviava dos caminhos revelados pelo Senhor: Jó 31.7; Jó 23.11.

g) Ele não cobiçava a mulher do próximo: Jó 31.9. (Ver também: Êx 20.14; Pv 6.20-7.27).

h) Era um bom patrão e não fazia acepção de pessoas: Jó 31.13-15.

i) Ajudava os necessitados (pobres, orfãos, viúvas, cegos e coxos): Jó 31.16-23. (Ver também Jó 29.12-16).

j) Não punha nas riquezas a sua esperança: Jó 31.24.

l) Não era orgulhoso por ter muitos bens: Jó 31.25.

m) Não era idólatra e/ou sincretista: Jó 31.26-28.

n) Não se alegrava com a desgraça de seus inimigos: Jó 31.29-30.

o) Era hospitaleiro: Jó 31.31-32.

p) Confessava os seus pecados: Jó 31.33.

q) Era bom pagador: Jó 31.38-40.

(Veja também: Jó 29.12-17.)


4 – SEU PRESTÍGIO NA COMUNIDADE:

a) Era respeitado pelos moços e idosos: Jó 29.7-8.

b) Era respeitado pelos príncipes e nobres: Jó 29.9-10.

c) Era respeitado por todos os que o ouviam: Jó 29.11-13; 21-25.


CONCLUSÃO

Como já disse no início, tristemente muitos pregadores só se focam nas posses de Jó ou no momento em que Deus restaura a sua sorte, mas se esquecem de que Deus usou seus familiares, amigos e aqueles que comeram em sua casa para abençoá-lo (Jó 42. 11-12). Ou seja, Jó foi alvo da mesma generosidade que usava com todos os necessitados (Ec 11.1-2). Ou melhor, ele experimentou o que o Novo Testamento chama de koinonia (leia a definição no final do estudo).

Ora, por motivos bem óbvios, esses pregadores só falam sobre as riquezas de Jó, porque são vaidosos, gananciosos, avarentos e ambiciosos - "a boca fala do que está cheio o coração"(Mt 12.34). Querem ser ricos, desfrutar do luxo, do bom e do melhor, mas não querem se comprometer com Deus e com a sua Lei (Lv 25. 35-38; Dt 15.7-11; Mt 25.31-46). Tente convidar um desses pregadores para pregar na sua Igreja, aí você saberá quanto é o cachê que eles cobram.

"RIQUEZA É UMA DAS BÊNÇÃOS QUE NOS TRAZ AS MAIORES RESPONSABILIDADES".

Diante do que lemos sobre Jó, poderíamos dizer que, assim como a mulher virtuosa é descrita no capítulo 31, do verso 10 ao 31, do livro de Provérbios, o capítulo 31 do livro de Jó apresenta o caráter do homem virtuoso – e Jó é esse homem. (Uma dica: leia o estudo sobre a mulher virtuosa no blog e compare).

Jó era muito mais que um mero homem rico; ele era o homem mais reto da Terra, pois temia verdadeiramente o seu Deus e Senhor; ele era um servo leal. Sua justiça e bondade eram refletidas em todos os seus atos. Jó era comprometido com a sua pureza pessoal, tanto na vida social como na familiar. Além disso, este homem de Deus só confiava no Senhor e não se apoiava nas riquezas que tinha.

Por essa razão, esse servo fiel teve a maior de todas as bênçãos – a admiração do Senhor. Esse é um dos grandes ensinamentos que aprendemos ao perlustramos as páginas marcantes do livro de Jó: melhor do que possuir prestígio na comunidade é ter o caráter admirado e aprovado pelo Senhor. Melhor do que comer e beber do bom e do melhor é fazer com que outros comam e bebam para que Deus seja glorificado. Melhor do que ser um homem rico é ser próspero de atos de generosidade. Melhor do que ter muitos bens é ter a presença de Deus na vida.


KOINONIA:  1) Associação com uma pessoa, envolvendo amizade com ela e incluindo participação nos seus sentimentos, nas suas experiências e na sua vivência (1Co 1.9; 10.16; 2Co 13.13; Fp 2.1; 3.10, RA; 1Jo 1.3,6,7). 2) Relacionamento que envolve propósitos e atividades comuns; parceria (At 2.42; 2Co 6.14; Gl 2.9; Fm 6, RA).