segunda-feira, 19 de julho de 2010

O PODER DAS PALAVRAS À LUZ DE PROVÉRBIOS

Seminarista Marcelo Seião

INTRODUÇÃO

Uma vez na Faculdade, o professor iniciou a aula com a seguinte frase: “tudo acontece dentro do campo das palavras”. Imediatamente, minha mente começou a viajar sobre essa máxima – foi como um abrir de uma comporta, uma inundação.

Então, alguns episódios Bíblicos de pronto encheram a minha cabeça. No Início, Deus criou o mundo pronunciando palavras: “Disse Deus: Haja luz; e houve luz” (Gn 1.3). Deus deu as suas primeiras orientações a Adão e Eva utilizando palavras: “E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. (Gn 2. 16-17).

Satanás, por sua vez, enganou o mesmo casal com o uso de palavras: “... É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?... Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal”. (Gn 3.1-5).

Tão importante é o seu uso que crenças são formadas e estabelecidas com palavras. Ensinos são transmitidos por meio de palavras. A fé vem pelo ouvir a pregação (Rm 10.17), que se constitui, basicamente, de palavras.

Em Provérbios, apredemos que das sete abominações nele alistadas (6.16-19), três são exemplos do emprego malicioso, maldoso e pernicioso das palavras: “língua mentirosa, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos”.

O Livro da Sabedoria deixa claro que as palavras podem ser usadas para destruir e, também, para construir. Elas podem ferir gravimente, mas também podem curar (Pv 12.18). Elas podem te animar como desanimar – tudo depende da intenção de quem a usa. Ou seja, a maneira como eu uso as palavras revela que tipo de pessoa eu sou: sábia ou insensata, piedosa ou ímpia, prudente ou imprudente.

Uma vez que o propósito do Livro é conduzir o seu leitor pelas vias da sabedoria, o bom uso das palavras não poderia ficar de fora. Vejamos o que Provérbios tem a nos dizer hoje!


1 - O QUE AS PALAVRAS SÃO CAPAZES DE FAZER:

1.1 – Fortalecer o corpo e a alma:
Pv. 15.30: “O olhar de amigo alegra ao coração; as boas-novas fortalecem até os ossos”.

Pv. 16.24: “Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a alma e medicina para o corpo”.


1.2 – Ferir gravemente:
Pv. 12.18: “Alguém há cuja tagarelice é como pontas de espada, mas a língua dos sábios é medicina”.

Observação: “tagarelice contém a idéia de precipitação, de deixar escapar palavras. No Hebraico, o falar irrefletidamente em Sl 106.33 é a mesma palavra que temos aqui, e representa a explosão de raiva de Moisés. Moffart ressalta bem o contraste da segunda linha: “mas há poder curador em palavras bem pensadas”. (KIDNER, Derek. Provérbios. Introduçãoe Comentário. São Paulo: Vida Nova. 2006. p. 94).


2 – A MANEIRA DE USAR AS PALAVRAS REVELA QUEM É O SEU USUÁRIO:

2.1 – Provérbios 10.18-21:

Insensato:
(vs 18) “O que retém o ódio é de lábios falsos, e o que difama é insensato”.

Prudente:
(vs 19) “No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente”.

Justo:
(Vs 20-21) “Prata escolhida é a língua do justo, mas o coração dos perversos vale mui pouco. Os lábios do justo apascentam a muitos, mas, por falta de senso, morrem os tolos”.


2.2 – Pv. 11.9-11:

Ímpio:
(Vs. 9 - 10) “O ímpio, com a boca, destrói o próximo, mas os justos são libertados pelo conhecimento. No bem-estar dos justos exulta a cidade, e, perecendo os perversos, há júbilo”.

Observação: o ímpio nessa passagem significa “hipócrita, profano, sem religião”.

Perverso:
(Vs. 11) “Pela bênção que os retos suscitam, a cidade se exalta, mas pela boca dos perversos é derribada”.

O Insensato e o Prudente:
(Vs. 12) “O que despreza o próximo é falto de senso, mas o homem prudente, este se cala”.

Mexeriqueiro e o fiel:
(Vs 13) “O mexeriqueiro descobre o segredo, mas o fiel de espírito o encobre”.


3. COMO USAR AS PALAVRAS?

3.1 – Muitas vezes é prudente se calar:
Pv. 10.19:
“No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente”.

Pv. 11.12:
“O que despreza o próximo é falto de senso, mas o homem prudente, este se cala”.

Pv. 13.3:
“O que guarda a boca conserva a sua alma, mas o que muito abre os lábios a si mesmo se arruína”.

Pv. 17.27 - 28:
“Quem retém as palavras possui o conhecimento, e o sereno de espírito é homem de inteligência. Até o estulto, quando se cala, é tido por sábio, e o que cerra os lábios, por sábio”.


3.2 – Pensar antes de responder:
Pv. 15.28:
“O coração do justo medita o que há de responder, mas a boca dos perversos transborda maldades”.

3.3 – Existe a hora e a forma certa de falar:
Pv. 25.11-15:
“Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo. Como pendentes e jóias de ouro puro, assim é o sábio repreensor para o ouvido atento. Como o frescor de neve no tempo da ceifa, assim é o mensageiro fiel para com os que o enviam, porque refrigera a alma dos seus senhores. Como nuvens e ventos que não trazem chuva, assim é o homem que se gaba de dádivas que não fez. A longanimidade persuade o príncipe, e a língua branda esmaga ossos”.


4. QUAL É A IMPORTÂNCIA DAS PALAVRAS NO NOVO TESTAMENTO?

4.1 – Nos Ensinos de Jesus:

4.1.1 – As palavras trazem justificação ou condenação:

Mateus 12.33-37:
“Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração. O homem bom tira do tesouro bom coisas boas; mas o homem mau do mau tesouro tira coisas más. Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado”.

William MacDonald diz que “Jesus solenemente os avisou (e a nós também) de que as pessoas darão conta por cada palavra frívola que pronunciarem. Porque as palavras que as pessoas pronunciam são uma medida padrão de sua vida, elas formarão uma base para a condenação ou absolvição. Quão grande será a condenação para os fariseus pelas palavras vis e desdenhosas que falaram contra o Santo Filho de Deus!”. (MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular Versículo por Versículo – Novo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão, 2007. p. 52).

4.1.2 – As palavras contaminam o homem:

Mateus 15.10-20:
“E, tendo convocado a multidão, lhes disse: Ouvi e entendei: não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem. [...] Jesus, porém, disse: Também vós não entendeis ainda? Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre e, depois, é lançado em lugar escuso? Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina”.

William MacDonald comenta: “Os fariseus e escribas eram extremamente cuidadosos acerca da observância ostentosa e escrupulosa das cerimônias de lavar as mãos. Mas sua vida íntima negligenciaram os assuntos de maior importância. Eles podiam criticar a falha dos discípulos no guardar as tradições não inspiradas, e ainda assim planejavam matar o Filho de Deus. Além disso, eram culpados da lista inteira de pecados registrados no versículo 19”. (MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular Versículo por Versículo – Novo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão, 2007. p. 63.)

4.2 – No Ensino dos Apóstolos:

4.2.1 – No Ensino de Paulo:

Colossenses 3.17:
“E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”.

William MacDonald expõe o seguinte: “Hoje em dia, os jovens têm grande dificuldade para distinguir o certo e o errado, mas se conseguirem decorar esse versículo terão uma chave para resolver seus problemas. O grande teste nesse caso é: posso fazer isso em nome do Senhor Jesus? Isso contribuirá para a glória de Cristo?”. (MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular Versículo por Versículo – Novo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão, 2007. p. 703).

4.2.2: No Ensino de Tiago:

Tiago 3.2-12:
“Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo”. [...] “Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim. Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco fonte de água salgada pode dar água doce”.

William MacDonald faz o seguinte apontamento: “Assim como os médicos de antigamente examinavam a língua para conhecer estado de saúde do paciente, Tiago avalia a saúde espiritual da pessoa por meio de suas palavras. A primeira etapa do autodiagnóstico são os pecados da fala. Tiago concordaria com a pessoa espirituosa que disse: ‘cuide de sua língua. Ela fica num ambiente molhado, onde é mais fácil escorregar!”. (MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular Versículo por Versículo – Novo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão, 2007. p. 890).


CONCLUSÃO

Como podemos facilmente notar, tanto Provérbios como o Novo Testamento nos conclama a fazer um hemograma espiritual, no qual nossas palavras passarão por um exame completo que detecta e diagnostica algumas infermidades espirituais – difamação, fofoca, falso testemunho, mentira, etc.

Esse exame só pode ser compreendido e interpretado pelo Médico dos médicos; só Ele é capaz de apontar as causas dos problemas de ordem espiritual e receitar vitaminas, remédios apropriados e dietas. Como por exemplo, parar de se alimentar dos quitutes do maldizente. (Pv 18.8).

Além disso, inexoravelemente esse hemograma espiritual vai nos nos mostrar o quanto somos insensatos ou sábios – convertidos ou não.

Questões para Reflexão:

1 – O que você descobriu sobre você mesmo?Você é insensato ou sábio? Fonte de água salgada ou doce?

2 – Suas palavras ferem mais do que curam ou destroem mais que constroem? Como você tem usado as palavras nas diferentes esferas de sua vida social? No trabalho, em casa, na escola ou faculdade e na Igreja? Suas palavras abençoam ou amaldiçoam?

3 – Talvez você não fala mal das pessoas, mas ama ouvir um mexerico. Você tem dado ouvidos às difamações, fofocas, disse-me-disse, etc.?



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